sexta-feira, 10 de julho de 2009

VIAGEM AO CENTRO DA (MINHA) TERRA

Sempre que viajamos para grandes cidades em outros países, saímos cedo, andamos muito (inclusive de metrô), tiramos muitas fotos, nos impressionamos com a arquitetura, com a história do lugar, achamos tudo lindo (até o que não é muito lindo) e voltamos à noite, exaustos e felizes. E foi exatamente isso o que fizemos ontem, só que por São Paulo mesmo. Aproveitamos o feriado para colocar um jeans, um tênis velho e sair por aí para bater perna e aproveitar o dia de sol que fez por aqui. Espírito de turista. A ideia inicial era só matar uma vontade louca de comer o delicioso pastel de bacalhau do Hocca Bar no Mercado Municipal, mas fizemos mais. Muito mais. Eu e o marido marcamos com o papai (o melhor e mais empolgado guia do Centro de São Paulo que eu conheço) para começarmos o dia tomando um café da manhã delicioso no Café Girondino, bem em frente à Igreja e ao Mosteiro de São Bento. Não me canso de ficar encantada sobre como o Girondino é charmoso e de como, abstraindo um pouco sobre os arredores, me faz sentir numa cidade européia, tomando aquele café gostoso e olhando a Igreja pela janela. Andando, seguimos pela Rua Boa Vista e encontramos edifícios maravilhosos de inspiração art nouveau, com vitrais encantadores, que deviam ficar escondidos atrás dos outdoors imensos que dominavam a cidade antes da bem-vinda Lei Cidade Limpa. Chegamos até a Rua XV de Novembro, vimos o prédio da Bovespa e do Banco do Brasil e chegamos até a Praça Antonio Prado, onde é possível encontrar uns quiosques de madeira com engraxataria, telefone público (escrito com ph) e até um coreto! Seguindo reto chegamos em frente ao primeiro arranha-céu da América Latina (30 andares), o Edifício Martinelli, que, apesar de deteriorado e tristemente pichado, ainda guarda o ar de glamour da década de 30, uma beleza arquitetônica indiscutível e com tanto para contar... como a existência de uma construção especial no 26º andar inspirada numa vila italiana, chamada Casa do Comendador, que funcionava como residência da família Martinelli, somente para provar ao povo, na época, de que o prédio era seguro. Ficamos imaginando que aquela construção combinaria perfeitamente em Nova York, onde, certamente, estaria mais conservada e custaria uma fortuna para manter um escritório. Deu até uma tristeza de pensar em como e quanto nosso povo não se preocupa com a preservação de sua história. Descendo um pouco mais, quase chegando na Líbero Badaró, avistamos a antiga sede dos Correios. Um belíssimo prédio. Voltamos até chegarmos à Praça do Patriarca. Uma equipe de filmagens fazia quase magia para que chovesse no meio da praça, mesmo sem uma única nuvem no céu. Reparamos nos detalhes do antigo Hotel Othon, no polêmico arco moderno que colocaram sobre a saída da primeira escada rolante do Brasil, a Residência Artística (onde a FAAP agora – ainda bem – mantém e preserva a história de pintores importantes do século XX que mantinham seus ateliês no local), o prédio da Prefeitura e seu jardim suspenso e, claro, o Viaduto do Chá. Não fomos até o outro lado do viaduto ver o Teatro Municipal e o Shopping Light porque queríamos tomar um café lá no Pátio do Colégio. Pegamos a Rua Direita e fomos até a Praça da Sé. Lá no meio, a imagem do Padre José de Anchieta abençoava a todos e parecia se lastimar pela situação das pessoas que perambulam por ali. Seguimos até o marco zero e o marido logo quis saber para que lado ficava seu amado Rio Grande Sul. Ah, a Catedral da Sé. Linda, grandiosa, robusta, receptiva e sem ser suntuosa demais, o que, a meu ver, combina muito mais com o que pelo menos eu acredito que sejam os princípios divinos. Além dos vitrais, adorei mesmo foi um anjo simples, esculpido na pedra que fica quase escondido numa capelinha lateral. Seguimos até o Pátio do Colégio e, ali, nunca canso de me impressionar com a arquitetura do antigo Tribunal de Alçada (e olha que eu já passei por lá nessa vida, hein!). O antigo escritório de arquitetura de Ramos de Azevedo trabalhou muito na cidade no século passado e deixou sua marca de verdade. Dá pra identificar claramente no que eles colocaram as mãos. Do outro lado, no Museu Anchieta, fizemos uma descoberta maravilhosa. O Café do Páteo é um lugar agradabilíssimo dentro do que seria a réplica da antiga construção do Colégio dos Jesuítas (onde a cidade foi fundada em 1554) e depois tornou-se a sede da Presidência da Província de São Paulo, nos idos da colonização do Brasil. Que delícia aquele lugar arborizado, com mesinhas simpáticas, que serve de ótimo ponto de parada de turistas e passeadores locais (como nós!). Como não tinha entrado ali nunca (porque só passo correndo e morrendo de pressa), nos surpreendemos com o espaço. Pra melhorar, ainda é possível encontrar uma parede de taipas da época da colonização totalmente preservada dentro de um vidro e visitar o Museu Anchieta. Não é nada demais, mas tanta coisa vem à mente olhando aquilo. Como a vida devia ser difícil para o povo que veio habitar uma região até então inóspita e a situação dos índios locais invadidos e catequizados por uma cultura estranha. Quantos conflitos, abusos, boa e má fé fizeram parte da criação do nosso país... Descemos até a Rua 25 de Março que, mesmo sendo feriado e com 80% das lojas fechadas, estava bem cheia (qualquer dia falo mais da 25). Fomos até a Rua da Cantareira almoçar no Mercado Municipal. Esse sim estava lotado. Eu a-do-ro esse lugar. Os cheiros e as cores das frutas, os queijos maravilhosos que eu amo (só lá eu encontro o Rembrandt capa preta holandês!), os temperos perfumados (onde mais se acha marsala por aqui?) e, claro, o fantástico, estupendo e incomparável pastel de bacalhau do Hocca Bar. Nos acotovelamos um pouco, enfrentamos o mau humor alheio na busca de mesas, pegamos uma fila, mas nada nessa vida ia me impedir de saborear aquele pastel ontem. No final deu tudo certo, matei a vontade que estava me matando e almoçamos muito bem. Depois, puxando uma carga extra de energia das pernas do papai, subimos a Senador Queiróz e fomos lá em cimão no cruzamento mais famoso da cidade: Av. Ipiranga x Av. São João. Vimos como o Cine Marabá ficou lindo depois da reforma e ficamos felizes em ver como iniciativas de recuperação do centro da cidade podem dar muito certo, porque estava lotado! Acho que as pessoas estão cansadas de ficarem trancadas sob a falsa sensação de proteção dos shoppings centers. O povo quer mais é ir pra rua de novo! Viva! Terminamos o dia (que rendeu muito) tomando um cremoso chopp Black no Bar Brahma (até eu tomei!) e voltamos para o metrô Santa Cecília pelo Largo do Arouche (que, segundo o papai, já foi chiquérrimo). Ai, como eu adoro aquela escultura do Brecheret ao lado da linda banca de flores em frente ao restaurante Le Casserole. Fico imaginando uma cena romântica do homem saindo do restaurante e voltando com flores para sua amada numa noite especial. É claro que, como em todas as grandes cidades do mundo, em maior ou menor grau, existe poluição, medo, violência, aglomeração, sujeira, pobreza, falta de higiene, bêbados, pedintes, miseráveis, trombadinhas, trombadões e tantas outras coisas tristes. Mas ontem, só por ontem, resolvemos ver São Paulo de um outro jeito: exercitando as pernas e o olhar que só vê a beleza! Foi fantástico. Tente um dia desses. (Dani Krause)

4 comentários:

  1. Ola Dani Krause, trabalho com Dani Diniz como freelancer na redação. Lendo este seu post deu muita vondade de imprimir e reproduzir todos os passos e caminhos. Na verdade já conheço praticamente todos mas eu demoro tanto pra revê-los putz. Bem legal! Abs.
    obs.: Hum... acho q vou aproveitar de divulgar o Rádio Gagá, meu podcast musical que faço junto com um amigo. www.radiogaga.com.br

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  2. Que passeio gostoso. Senti a mesma coisa na última virada cultural. Foi uma excelente sensação andar em pleno centro velho à meia-noite na maior segurança.
    Já fiz um passeio de turista uma vez mas por uma outra rota: Museu do Ipiranga, Ibirapuera, Jóquei Clube, Av. Paulista, Palácio do Governo e Jardim Botânico. Acho que passei mais tempo no carro do que nos lugares que visitei, mas tirei ótimas fotos.

    Acho que vou fazer esse passeio no centro qualquer findi desses.

    Valeu a inspiração!

    Frô.

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  3. Oi Dani!
    Amo o Centro de São Paulo e acabei de me mudar para lá, pois o Murilo já morava lá.
    É um desafio, por vários motivos que você mencionou no final do post. Mas há comodidades também e privilégios, muito o que se fazer também para curtir.
    Parabéns pelo post! Adorei!
    Bjos e beijos.

    Cintia.

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  4. sem comentario SAMPA é coisa de doido, simplemente maravilhosa esta linda e deslumbrante CIDADE que é não só dos PAULISTANOS mas de todos que aqui chegam de todos os lugares do mundo, TE AMO SAMPA.

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