quinta-feira, 21 de maio de 2009

GREGOS E TROIANOS

Alguns momentos, situações ou pessoas são meras passagens nas nossas vidas. Outros, porém, podem nos marcar definitivamente e deixar uma carga emocional importante na nossa história e em quem somos e no porquê de sermos o que somos. Eu estava pensando exatamente nisso enquanto via, emocionada, uma linda, corajosa e grande amiga de infância entrar vestida de noiva na Catedral Ortodoxa, ali na Rua Vergueiro (aliás, é uma igreja que merece ser visitada). Ah! Quantas lembranças... Os dias de escola ali no Colégio de Santa Inês (centenário!) no Bom Retiro, as brincadeiras, os ídolos das novelas e dos cinemas, os namorados, decorar letras de música em inglês, encapar o fichário, o primeiro beijo desejado (e às vezes nunca dado), os dilemas deliciosos de uma outra época. E foi lá, nessa época, que tive a oportunidade de aprender a conviver com a diversidade de uma forma muito peculiar e que, pra mim, tem muito a ver com o jeito dessa cidade que tanto me encanta. Descendente de italianos e estudando num colégio católico de freiras, convivi com a família grega da Aretusa (essa minha amiga que casou) e outros amigos, como o Ioannis e o Demétrios (todos de origem grega), mas, também, com coreanos, judeus, libaneses e até búlgaros, sempre de forma absolutamente tranquila. Lembro de me assustar quando o papai me explicava o motivo das guerras que víamos pela televisão, porque eu achava que o mundo, na verdade, deveria ser um grande Bom Retiro, onde todas as pessoas convivessem pacífica e respeitosamente nas suas diferenças. Íamos à escola ali, mas também comíamos uma bureka à tarde na Casa Búlgara sem entender patavina do que a senhora do caixa falava, comprávamos canetinhas e papéis de carta nas lojinhas dos coreanos (que só não falavam português na hora de dar desconto... hehe), pegávamos ônibus lotado na muvuca das lojas da Rua José Paulino, ouvíamos o chamado pro shabat vindo da sinagoga no pôr-do-sol da sexta-feira e muito mais. De pensar em tudo isso, não resisti e, no dia seguinte ao casamento da Arê, resolvemos prestar uma homenagem à minha amiga e ao passado. Fomos almoçar no famoso e tradicional Acrópoles na Rua da Graça. Sempre digo que lá é o restaurante grego mais grego do mundo, porque eu duvido que mesmo na Grécia exista algo assim, com todas as comidas típicas reunidas num só lugar. Fundado em 1959 pelo Sr. Thrassyvoulos Petrakis (fala isso rápido sem enrolar a língua!), vulgo "Seu Trasso" (bem mais fácil e carinhoso...), o restaurante é tão especial que está até no livro “1000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer”. E dá pra entender o porquê. O restaurante é muito simples e acolhedor, assim como o Seu Trasso, que nos recebeu na porta (como faz todos os dias com todos os clientes), juntou as mesas para sentarmos, serviu uma entrada ótima de pastas (a coalhada com pepino é a melhor) com pães quentinhos e ficou ali, sentado conosco, nos convencendo de que ele realmente tem 92 anos! Depois, nos explicou sobre todas as deliciosas comidas que ficam expostas lá atrás na cozinha pra você escolher. No Acrópoles, você come primeiro com os olhos, despertando o paladar e o olfato antes mesmo da comida chegar à mesa, e, depois, experimenta pratos maravilhosos e muito bem servidos. Comi uma vitela saborosa, o marido comeu um mix de frutos do mar (só “pra variar”) e os amigos comeram um suculento e típico carneiro. Ainda tem os doces de nomes impronunciáveis e sabores irresistíveis. Não tem como não sair satisfeito de lá. Assim como São Paulo e como o próprio Bom Retiro, a comida do Acrópoles agrada gregos, troianos, gaúchos, paulistanos, judeus, baianos, pernambucanos e todos que ali convivem em harmonia. Mais uma lembrança bacana sobre diversidade e tolerância e menos um lugar na lista para conhecer antes de morrer. Valeu muito! (Dani Krause)
www.colegiodesantaines.com.br
Casa Búlgara: Rua Silva Pinto,356 - (011) 3222-9849
www.restauranteacropoles.com.br

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