sábado, 11 de abril de 2009

NOSSO VERSAILLES

Estava esperando há semanas aquele passeio da escola. Íamos ao Museu do Ipiranga. Acho que eu sempre fui uma criança diferente, porque desde pequena adorava ir a museus. Mas bem no dia do tal passeio fiquei super doente e não pude ir. Que frustração. Depois, nunca mais me empenhei em criar uma única oportunidade para sanar essa “lacuna cultural”. Hoje, finalmente, acabei com isso. Que vergonha. Tenho quase 30 anos e nunca tinha ido ao Museu do Ipiranga! Conheço museus em várias cidades do mundo e não conhecia o mais paulistano dos museus. Enfim, pronto. Adorei o Parque da Independência, espantosamente bem cuidado. E adorei, também, passear pelos jardins do museu. Não estava muvucado porque era bem meio de feriado de Páscoa, então, foi tranquilo caminhar por ali e a impressão pode ter sido melhor do que num outro final de semana normal. O parque atrás do museu também é uma delícia. São Paulo precisava de muitos mais espaços verdes e abertos assim. O museu começou a ser construído em 1885 e já foi composto pelos acervos dos atuais Museu de Zoologia e Museu de Arqueologia e por outra parte de peças e artefatos para louvar a monarquia brasileira e seu principal feito: a Independência do Brasil às margens do córrego do Ipiranga. Mas logo depois veio a proclamação da República e o lugar virou um monumeto micado, se tornando um museu confuso numa construção não terminada (de acordo com o projeto original haveria outras duas alas laterais). Hoje, os acervos foram separados e organizados e o prédio, apesar de precisar de uns retoques, é bem bonito e tem uma inspiração bem típica do século XIX. Admiradores ferrenhos do estilo francês, os arquitetos e projetistas da época tiveram nitidamente a pretensão de imitar a tendência à simetria do Palácio de Versailles, o que, para os nossos padrões tupiniquins, até deu certo. O acervo atual é um pouco limitado e sem informações adequadas em inglês (vimos alguns turistas decepcionados por lá hoje) e podia sim ser bem incrementado com um pouco mais de atenção. Porém, reúne peças bem interessantes sobre o cotidiano do Brasil Colônia até o final do século XIX, sobre o impressionante desenvolvimento de São Paulo e algumas pinturas, principalmente as encomendas por Afonso d'Escragnolle Taunay (diretor do museu no início do século XX), sobre a época das Bandeiras, das Monções e da Colonização do Brasil. Para mim ficou clara a intenção, na formação do acervo atual, de focar nos feitos dos primeiros paulistas que fundaram as Vilas de São Vicente e São Paulo e que saíram por este Brasil a fora desbravando o interior e ajudando a formar uma cultura tipicamente brasileira (mesmo que esses mesmos “desbravadores” tenham massacrado e escravizado a população indígena local pra isso...). Além de obras de Benedito Calixto, Almeida Júnior e outros artistas do início do século XX, o famoso quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo (aquele clássico que aparece em todos os livros de história sobre o Grito de Independência) merece ser visto. Mas deve ser encarado muito mais por sua contribuição artística do que como ensinamento sobre a verdade histórica. Afinal, não há possibilidade daquela cena ter sido tão glamorosa. Por óbvio D. Pedro I não estava montado naquele lindo cavalo, nem cercado pela guarda real com traje de gala num calor dos infernos. Devia era estar exausto, enfrentando um terreno acidentado no lombo de um jegue e com a cabeça cheia das chatices imperiais... hehe. Mas o fato é que não podemos nos dizer verdadeiramente paulistanos sem conhecer o Museu do Ipiranga, sua história e o que podemos aprender ali sobre a nossa própria história e, principalmente, sobre o que queremos e não queremos mais para o nosso futuro. (Dani Krause)
www.mp.usp.br
www.chateauversailles.fr

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