terça-feira, 28 de abril de 2009

PROGRAMA 2 EM 1

Sexta-feira foi meu último dia de férias. Na verdade tive uma folga em meio às férias mas isso não vem ao caso. O importante é que, apesar da chuva, do frio e da preguiça eu me propus a fazer um programa deliciosamente paulistano e que me fez tão bem. Com um tíquete do metrô, me desloquei até a estação da Luz e com apenas 8 reais pude passar a tarde entre a Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa. Fazia uns seis anos que não pisava na Pinacoteca e lembrei da primeira vez que estive por lá. Foi também numa sexta-feira de outono chuvoso e eu me deixei levar pelas suas paredes de tijolinhos e todo o arsenal artístico que elas abrigam. Estive lá no meu segundo ano de faculdade para fazer algum trabalho de história da arte e fiquei horas olhando o vai-e-vem dos alunos, impacientes ao tentar anotar tudo que olhavam sem ver. Sexta-feira passada, alguns bons anos mais velha, tive a mesma sensação de calma ao olhar tantas artes e descobrir a pintura do francês Fernand Léger, artista do século XX que teve um relacionamento estreito com alguns modernistas brasileiros, entre eles, Tarsila do Amaral. Assisti inclusive a um filminho sobre sua vida e obra e achei seu trabalho muito rico. Interessante, por exemplo, a fixação que ele tinha pelas mãos e como conseguia retratar isso em seus quadros, alguns, confesso, aflitivos. O ruído dos adolescentes incomoda um pouco, é verdade. Mas basta brincar de gato e rato com eles para poder apreciar o acervo permanente do Museu, com obras belíssimas de Benedito Calixto, Almeida Júnior, Anita Malfati, Victor Brecheret entre tantos. Passei uma duas horas olhando o todo, subindo e descendo escadas e tirando fotos também. Ué, por que a gente só tira foto quando está fora de São Paulo? Tomei um cafezinho ali ao lado num espaço bonito mas de atendimento péssimo. Café com café mesmo pois não tinha nada muito gostosinho para acompanhar. Atravessei a rua e estava na bilheteria do Museu da Língua Portuguesa. Lá eu estive há menos tempo (no começo do ano passado e vi a excelente exposição de Gilberto Freyre). Como, infelizmente, a amostra de Machado de Assis já havia sido desfeita, me contentei com o Museu pura e simplesmente. E isso só basta. Assisti novamente ao filme sobre a origem das línguas na voz de Fernanda Montenegro e entrei no palco para ouvir de doces vozes poemas eternos, parágrafos intensos, canções de amor, de saudade, de exílio. Ouvi Camões, ouvi Pessoa, ouvi Drummond, ouvi Gonçalves Dias, ouvi Guimarães e senti todos eles. Eu me emocionei da primeira vez. Achei que era coisa de principiante. Não. Eu me emocionei novamente e como não sentir isso ao ouvir o Guardador de Rebanhos? Não, não dá. Infelizmente, os mais de cem alunos que se sufocavam no palco, ouviam sem escutar. Saí de lá e ainda me aventurei no túnel de palavras e no telão, que pega todo um corredor, e mostra um pouco da nossa cultura. Tirando o frio do ar-condicionado e o tumulto dos adolescentes, tudo valeu a pena. Peguei meu guarda-chuva, meu tíquete de volta do metrô e, em menos de 15 minutos, eu estava na estação Brigadeiro, onde fui tomar um cafezinho com minha irmã. Com sede de cultura e para ver se a chuva passava, parei na Fnac em busca de um CD que ainda não encontrei. A voz que recitaram os versos de Pessoa ainda estava nos meus ouvidos. E já que eu estava lá, por que não abrir o último exemplar que reúne mais de 100 textos inéditos do poeta português? Eu me contentei em reler apenas o Guardador de Rebanhos. Meu último dia de férias valeu por todos. Com apenas 8 reais eu me alimentei – de cultura (como uma vez disse – e ela também estava no Museu – Clarice Lispector). (Dani Diniz)
www.pinacoteca.org.br
www.museudalinguaportuguesa.org.br
www.fnac.com.br

Um comentário:

  1. Dani...que máximo...queria eu estar em sua companhia para poder mergulhar com você nesta cultura...que delícia...morri de vontade!! Beijos!!

    ResponderExcluir